Este trabalho tem como tema a cantora Maria Bethânia e sua atuação nos palcos.
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como tema a cantora Maria Bethânia e sua atuação nos palcos, cuja interpretação apresenta consigo voz, corpo, indumentária e cenário num conjunto perfomativo que evoca memórias e rompe certas normas de gênero, sexualidade e territórios. Esta análise encontra-se localizada no recorte temporal da ditadura civil- militar (1964-1985), e, dentro desse contexto, torna-se necessário compreender como uma mulher, parda, nordestina, bissexual conseguiu, através da sua performance, sobreviver a esse período nevrálgico e se consagrar como uma das maiores intérpretes do país.
Para tal, foi utilizado como metodologia uma análise qualitativa de três performances distintas de Bethânia, levando em consideração três aspectos de sua carreira. Selecionou-se uma perfomance em que ela se volta para o nordeste e sua regionalidade. Uma perfomance romântica, perfil que a cantora assume boa parte da sua carreira. E uma religiosa, uma vez que ela se dedica ao sincretismo em muitas de suas músicas. Tendo em mente esses perfis, a análise se baseou em como ela canaliza o que está cantando no palco e como é evocado memórias em sua performatividade.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Este trabalho encontra-se fundamentado no campo interdisciplinar da Memória Social, mas precisamente na linha de pesquisa de memória e linguagem. Dessa forma, se entende performance sob a perspectiva das linguagens e narrativas, utilizando como principal autores Bauman e Briggs e seu conceito de perfomance artística, cujo ato corporal se configura como um tipo de texto e, portanto, transmite uma comunicação entre artista e espectador. Essa teoria é aplicada na análise do corpo de Maria Bethânia juntamente com outro compo de estudos, o da Memória Social.
Com a Memória Social é possível entender de onde parte essa performance e com que intenção ela é executada, as bagagens que Bethânia traz consigo no seu ato performativo, bem como compreender em que contexto histórico ela está alocada.
Para tal comprensão, trazemos como autoras da área, Vieira e Gomes, que colocam que “a memória e seus novos usos serviram de combustível para processos de luta política e propulsores para uma série de medidas de reconhecimento direcionadas a uma diversidade de grupos indenitários” (VIEIRA; GOMES, 2016, p. 263), essa colocação nos leva a pensar no caráter emancipatório que a Memória Social possui quando ela propõem pensar sobre históricos de lutas e, além disso, trajetórias de indivíduos. Esse caráter é fundamental para compreender o conceito de performances e como ele se aplica à intérprete Maria Bethânia, num contexto de ditadura civil-militar. Ela se coloca como um corpo num ambiente não convidativo.
Atrelado a isso, é possível notar dentro da análise alguns campos que precisam se descatacar, como o de estudos de gênero, de sexualidade e de território, pra poder compreender o que essa mulher representa dentro desse contexto repressivo. Para compreender sobre esses atravessamentos, utiliza-se Butler e seu conceito de corpo e gênero, bem como a relação com o sexo e a sexualidade.
Para fechar o cabedal teórico, apresentamos alguns autores da área da música e da história da MPB, pra compreender sobre a artista Maria Bethânia e o que ela representa na construção da música popular brasileira. Aqui, apontam-se Prado, Napolitano e Garcia como principais autores.
Sendo assim, essa pesquisa encontra-se paramentada no campo da Memória e Linguagem e tem por objetivo observar a performance de uma intérprete, e que possui como subtópicos música e gênero, pra entender os contextos e atravessamentos que essa mulher possui enquanto um corpo num território de censura.
RESULTADOS ALCANÇADOS
Esta pesquisa faz parte de uma dissertação em andamento, então ainda não possui resultados finalizados. No entanto, ela já possui dados suficientes para serem apresentados. Num evento recente, foi feita uma análise de um show específico da Bethânia: um especial para a TV Bandeirantes de 1973. Essa análise serviu como um termômetro para perceber alguns pontos que serão aprofundados na dissertação em desenvolvimento.
Dentre os pontos destacados, um dos resultados obtidos foi observar que Bethânia possui em sua carreira algumas evocações artísticas que se relacionam com a sua própria memória individual. A primeira delas é que constantemente ela aproxima sua performance da cultura popular, sobretudo do território nordestino, abordando o sertão, a seca, mas também os ritmos desse espaço, como o xote e o baião. Cabe ressaltar que ela toma notoriedade quando interpreta Carcará (João do Vale), onde a cantora denuncia um êxodo rural de nordestinos em movimento para o sudeste do país.
Outros pontos que se percebeu é que Bethânia assume em sua carreira uma postura romântica e é com ela que se consagra. Cabe, inclusive, ressaltar que no momento em que ela se põe como comunicador, ela direciona seu discurso para ambos os gêneros, às vezes assumindo um eu-lírico masculino, noutras feminino. Também foi perceptível nessa análise compreender que Bethânia possui uma ligação com o sagrado africano, cantando para seus deuses em diversos momentos da sua trajetória.
É notório dentro dessas observações que, no ano de 1973, o país tinha recém entrado num forte regime de cercemaento de informação, com a instauração do Conselho Superior de Censura, fazendo com que todas essas performances tomem um caráter político, sobretudo ao se pensar numa mulher, cantando para outras mulheres, sobre o nordeste, num ambiente diaspórico e para deuses que não são cultuados na matriz cristã, que é utilizada na agente política do regime e, ainda assim, ela sobrevive a esse período, perpassa por essas questões e chega a quase sessenta anos de carreira em plena atividade.
Para este presente resumo, já tendo em mente esses pontos abordados, foram selecionadas três performances específicas de Bethânia que dialoguem com cada um desses pontos, são elas: a) Último Pau-de-Arara/Pau-de-Arara (1973), do show Rosa dos Ventos; b) Jeito estúpido de amar (1977), do show Pássaro da manhã e c) Iansã (1973), do show Drama – 3º ato.
Acredita-se que, baseado nos autores propostos, possa se compreender de que forma Bethânia performa sua territorialidade, sexualidade e religiosidade nessas performances e, que forma ela conseguiu sobreviver mediante um contexto repressivo
CONCLUSÕES
Como pontuado, essa pesquisa ainda não possui uma conclusão definida, mas alguns pontos já percebidos é que Bethânia performa política, através de sua arte e por ela também rompe diversas normas impostas, de sexo, gênero, território, vivências e religião. Isso tudo se dá pelo uso de seu corpo, sua voz e todo o conjunto estético e estílico que compõem a sua performance no palco. A ideia é trazer uma análise detaljada em cima das três performances apresentadas na metodologia.
SOBRE O AUTOR
Keison Mamud Honorato
Mestrando em Memória Social na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO
Contato: keison.mamud@yahoo.com.br
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